Confira artigo publicado pela senadora Zenaide Maia (RN), na edição desta sexta-feira (14) da “Folha de S.Paulo”. Conteúdo também está disponível neste endereço.
Deixar de vacinar crianças é abandono de incapaz
Trata-se de questão de vida ou morte restaurar o pacto social pela imunização
Zenaide Maia
Senadora da República (PSD-RN), é procuradora especial da Mulher do Senado Federal
A ciência prova: nos últimos 50 anos, os esforços globais de vacinação salvaram cerca de 154 milhões de vidas —ou seis pessoas a cada minuto de cada ano. A grande maioria de mortes evitadas —101 milhões— foi de crianças. Esse estudo, liderado pela Organização Mundial da Saúde, reforça que a imunização é uma política pública de interesse coletivo, um patrimônio que, junto à água tratada, é responsável pelo aumento da expectativa de vida do ser humano.
Por isso, reforço minha militância, como médica e parlamentar, para reverter a queda de cobertura vacinal no Brasil. Nos últimos anos, a partir de teorias estapafúrdias, sem lógica científica, tem havido uma diminuição gravíssima da cobertura vacinal, colocando em risco a vida e a saúde da população brasileira. Precisamos restaurar o pacto social pela vacinação. É questão, sim, de vida ou morte!
Aprovamos recentemente no Senado Federal a criação de um programa nacional de vacinação em escolas públicas, uma medida essencial para aumentar a cobertura da imunização gratuita contra doenças graves. Implementar o previsto nesse projeto de lei (PL 826/2019) é mais uma medida para que as crianças e os adolescentes sejam vacinados enquanto estudam.
O estrago negacionista contra as vacinas e contra a ciência nos últimos anos levou dúvidas à cabeça da população, que perde a confiança na necessidade e na eficácia da imunização. Como médica infectologista há mais de 30 anos, mãe e ex-secretária municipal de Saúde, reafirmo: vacinem seus filhos.
Vacina salva vidas! Uma criança não tem como se defender sozinha nem de proteger a própria saúde. Pais e demais responsáveis, cientes de consequências possíveis de doenças, como morte ou sequelas irreversíveis para o resto da vida, cometem crime de abandono de incapaz quando não vacinam menores de idade.
Segundo o estudo que citei no começo deste artigo, que foi publicado na revista médica britânica The Lancet, nos últimos 50 anos a vacinação contra 14 doenças contribuiu para reduzir as mortes infantis em 40% no mundo. Graças às vacinas, a varíola foi erradicada. A OMS destaca que mais de 20 milhões de pessoas podem hoje andar devido à imunização contra a poliomielite.
Citados pela Fiocruz, dados da OMS divulgados em 2023 mostram que, no país, quase 26% da população infantil não recebeu nenhuma dose de vacina em 2021. É grave! Há risco de a poliomielite (paralisia infantil) voltar no Brasil devido à baixa adesão às campanhas de vacinação. Nas aeronaves, agora estão avisando os passageiros sobre sintomas de sarampo. A Fiocruz alertou sobre a queda da cobertura vacinal contra a meningite.
Uma das maiores conquistas da humanidade, vacina é de graça, dada pelo governo —e precisa de pesquisa, investimento e colaboração contínuos, inclusive com apoio privado. É esse o sentido do nosso trabalho legislativo: a defesa da vida, investir no direito de nosso povo a um futuro saudável e seguro, restaurar a conscientização da população por meio de informação confiável para que todos voltem a se vacinar. Prevenir doenças é sempre o melhor caminho, e a vacinação é prevenção.